segunda-feira, 5 de abril de 2010

Uma homenagem supreendente!

A carreira ministerial é, sem dúvida, cheia de surpresas, pois se num dia você recebe ameaças de criminosos, tem sua família inteira colocada em risco por exercer com honestidade aquilo a que se propôs a fazer, doutro lado você acaba surpreendido com fatos que o enche de orgulho e recompensam o sacerdócio ministerial de promover a justiça onde o Estado ainda mal chegou.
Noutro dia, estava na minha sala, na promotoria de justiça de São Paulo de Olivença, quando chega a presidente do atual Conselho Tutelar do município com o seguinte caso: "ela foi procurada pelos pais de uma criança de aproximadamente 10 (dez) meses, pois eles não estavam conseguindo registrar o nascimento da criança a quem resolveram dar o nome de Daniel. Diante disso, passei a ouvir os pais da criança, que são Peruanos. O pai falava bem o português, facilitando assim a comunicação, já que o meu espanhol se encontra enferrujado. Então, eles me contaram que na viagem que faziam de volta, de barco, em direção a Tabatinga, a sua esposa, que estava grávida entrou em trabalho de parto, tendo o menino Daniel nascido numa comunidade, à beira rio, em São Paulo de Olivença, com a ajuda de uma morada local, que também foi ouvida por mim, e que devido a complicações no parto seguiram adiante na viagem.
Assim, como não conseguiam registrar o filho e como os seus vistos estavam vencendo, resolveram procurar o Conselho Tutelar e o Ministério Público. Diante do caso, criança nascida viva em local não hospitalar, seguindo as prescrições da Lei de Registros Públicos, após importante orientação que me deu a amiga Carolina, promotora de justiça de Juruá, orientei o Cartório e com os testemunhos necessários foi expedida a certidão de registro de nascimento do menino Daniel, que teve o seu prenome acrescido, por vontade de seus pais, do prenome Alessandro, passando a se chamar Daniel Alessandro, fato este que só descobri depois de eles terem seguido seu rumo."
Confesso que nesse dia fiquei feliz, extremamente feliz, por ser membro do Ministério Público do Amazonas, porque naquele momento ajudei uma criança e uma família a terem do Estado um tratamento mínimo de proteção.
A simplicidade do gesto e do exemplo revelam o quanto é carente o povo que vive na amazônia do alto, médio e baixo solimões, onde tudo se faz de conta, onde o Brasil de 1988 é comentado, mas não é visto...